terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Superguidis ao vivo no Humaitá Pra Peixe

(Foto: Divulgação / Bernardo Mortimer)

Cabelos grandes e crespos escondem o rosto; o tronco está encurvado para baixo; a guitarra pendurada no pescoço; os movimentos meio cambaleantes pelo palco acompanham o ritmo básico da música. O guitarrista Lucas Pocamancha dança na beira da na vala comum de um pós-grunge tardio e ordinário.

O que faz os Superguidis merecerem a boa estrutura do teatro, o som bem equalizado, o clima receptivo e a torcida do público por um futuro ainda melhor é muito mais do que essa impressão inicial pode indicar.

Durante cerca de quarenta minutos, eles tocam músicas dos seus dois discos, lançados pelo selo Senhor F, mais a inédita "Se não fosse o bom humor". Fazem ainda pequenas citações a "21st century digital boy", do Bad Religion e "Divine Hammer", dos Breeders.

Os anos 90 são claramente a maior fonte de referência para eles. Dave Grohl não marca presença apenas no chiclete que o vocalista Andrio masca entre um verso e outro. O cuidado em estruturar quantidades fartas de melodia junto a uma distorção que sai quase espontaneamente dos amplificadores é a interseção entre as simpáticas bandas de Seattle e de Guiaíba.

Personificar de maneira sensível imagens e palavras dos jovens comuns é justamente o que faz dos Superguidis uma banda incomum. "Dentro dos arquivos eu corto os meus dedos", canta Andrio em "Mais um dia de cão", deixando nas entrelinhas sua falta de habilidade no primeiro emprego e talento no segundo.

Enquanto ele afina sua guitarra, Lucas começa um papo desajeitado sobre como seu tênis furado se encheu de naquela tarde na praia. Falas espontâneas e uma trilha extraordinariamente comum fazem com que os cabelos grandes, o tronco encurvado, a guitarra pendurada e os movimentos cambaleantes passem uma mensagem diferente: distraídos venceremos.

Esse texto foi publicado também no Pílula Pop. Passa lá.

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