segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Nostalgia parte 2 - Chilindrina

Eu já tive uma banda. Ainda tenho uma banda, eu acho. Claro que hoje sinto auto-vergonha-alheia só de olhar para a guitarra debaixo da cama, e nunca vou "marcar um ensaio" de novo. Mesmo assim, se alguém usar aquele truque sujo de perguntar coisas rápido para responder o que vier na cabeça e no meio disso enfiar "como é o nome da sua banda?", eu respondo "Chilindrina".

Lembro de deitar na cama à tarde, depois das aulas do primeiro ano, e pensar "MEU DEUS, que coisa incrível, eu tenho uma banda, isso é surreal". Além de escolher o repertório, eu gostava de escolher o futuro: na última folha do meu caderno tinha uma linha do tempo imaginária da banda, com todos os passos que estariam descritos em uma biografia futura, como "encontro com o cara de uma gravadora" e "lançamento do primeiro disco". Claro que nada disso aconteceu, e hoje os itens mais memoráveis da biografia seriam "incitar a balbúrdia no colégio em um show no recreio", "gastar uma fortuna incrível, tipo os últimos 10 reais no bolso de cada um, para gravar no estúdio" e "entrar para a faculdade e parar definitivamente com a banda".

***

Resgatei essa história como pretexto para lançar o primeiro clipe da Chilindrina, que nunca tinha sido visto fora do meu computador. A música se chama "Madruga", é instrumental e faz parte do primeiro EP da banda, de 1999, mais conhecido como "aquele com um cachorro no cenário do Chaves na capa".


Nostalgia e camisas de flanela digitais

Hoje resolvi fazer uma pilha com todos os meus CDs e transformar um por um em arquivos mp3. Já planejava isso há alguns meses, quando consegui um desses tocadores portáteis que, graças a um pacto com o diabo, conseguem guardar uma quantidade absurda de músicas. Outro motivador importante foi o fato de eu simplesmente não conseguir mais ouvir um disquinho aqui em casa - todos os CD players pifaram.

Os discos mais antigos e empoeirados me fizeram sentir aquela nostalgia da adolescência. Eles são, em geral, da Fase Grunge, que foi mais ou menos minha primeira grande fase musical (a segunda foi a Fase Britpop e a terceira foi a Fase Sortidos, que dura até hoje).

A trilha durante o trabalho arqueológico foi Live on Two Legs, disco ao vivo do Pearl Jam, de 1998. Adoro a falta de vergonha deles em serem "homens que assistem futebol americano na TV tomando cerveja mas não têm medo de demonstrar suas emoções" e se arriscarem naqueles hinos roqueiros que eu não ouvia há tanto tempo.

Parece que isso é só o começo. Agora eu carrego vários gigas de nostalgia no bolso. E já que segunda de manhã vem aí, estou pensando se esse retorno à adolescência me dá o direito de voltar a usar roupas esfarrapadas e falsificar atestados médicos para poder dormir até mais tarde.

Touch me, I'm sick!

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Kinks, Juno e os homens respeitáveis

Acabei de voltar de três dias em um "encontro de equipe" do trabalho. No meio de discursos e dinâmicas constrangedoras sobre "foco no resultado" e essas coisas, acabei ouvindo uma boa historinha sobre o mundo corporativo (oh!), na trilha do filme Juno ,ontem de manhã. Assim como os diálogos do filme, a trilha é cheia de pérolas doces e ácidas. Além das músicas da Kimya Dawson, que são maioria, também gostei das faixas que a trilha desenterra, como "Well Respected Man", dos Kinks.

A letra descreve de um jeito tão singelo a vida dos "homens respeitáveis" que vira um manifesto mais forte que seriam um bando de palavras de ordem. Claro que dá vontade de gritar e promover uma quebradeira toda vez que você ouve alguém defender a importância do feedback. Mas transformar esse jeito sem graça de viver em uma canção cheia de graça parece uma reação mais inteligente.

Começa assim:

Cause he gets up in the morning,
And he goes to work at nine,
And he comes back home at five-thirty,
Gets the same train every time.
cause his world is built round punctuality,
It never fails.

E continua:

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Acceptable in the 90`s

Meus óculos de aro grosso e minha barriga proeminente por baixo de uma camisa listrada nunca pesaram tanto como enquanto eu ouvia o disco novo do Stephen Malkmus and the Jicks, chamado Real Emotional Trash. Malkmus, para quem não lembra, foi líder do Pavement, aquela banda que inventou que tocar guitarra desafinada vestido como um bancário era uma coisa legal. Sem o cheiro de novidade nem a expectativa de uma grande mudança de estilo, o disco é opressivo de tão indie-rock. E, droga, tenho que me contentar em ser uma pessoa muito previsível ao admitir que adoro isso.

A esquisitice calculada dos instrumentos e da voz é tão bem resolvida que às vezes você se esquece de achar esquisito e pensa em algo arrumadinho como rock progressivo. Claro que conta aí o deboche de Malkmus ao fazer músicas como nomes tipo "Dragonfly Pie" e faixas de 10 minutos. Parece provocação: "ei, eu posso contar a piada que eu quiser, mas mesmo assim você vai rir se eu falar daquele velho jeito desleixado que vai te fazer lembrar de quando você achava uma coisa incrível conhecer e entender essas piadas, seu indie velho". Maldito Malkmus.

Stephen Malkmus and the Jicks

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Punk de agência

Essa imagenzinha aí embaixo é parte da programação de um evento de comunicação em que talvez eu seja visto (de qualquer forma, estarei com aqueles disfarces de óculos e bigode de plástico). Tipo, tranformaram o punk num "case", que horror.

- Depois do case de anúncio de celulares 3G via mensagens por bluetooth que te acham mesmo debaixo de uma piscina e se implantam no seu cérebro, vamos conhecer o case do punk-rock.

Mate-me. Por favor.

Repare no "atitude rebelde e adaptibilidade". A que ponto chegamos...

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Meu clipe da Cat Power

Voltando pra casa, na estrada, fui ouvir o disco novo de covers da Cat Power. Antes eu a achava uma indie-kid esquisita que ia dizer coisas que eu não entendo, e isso me dava um pouco de medo. Hoje continuo com medo, por um motivo oposto: Cat Power agora é clássica e elegante. Quando ela canta daquele jeito falado, meio te dando uma bronca e meio te contando um segredo incrível, parece que Patti Smith ficou mais jovem e resolveu ser menos barulhenta e mais bem-vestida.

Aquele clima de estrada, com as montanhas passando e o dia virando noite, pode ter aumentado meu medo, mas também me fez achar o disco bonito. O clipe foi muito adequado à música :)

Se meu cabelo fosse grande e sedoso, ficaria assim na viagem

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Cisco no olho

Se você me encontrar por esses dias com um fone de ouvido no metrô, no ônibus, ou em qualquer lugar público, passe discretamente e finja que não me viu. Sério, vai ser menos constrangedor para os dois. É que ultimamente tenho derramado lágrimas sem nenhum pudor nesses lugares, por causa de umas malditas músicas. A coisa já chegou ao ponto em que posso fazer uma pequena lista das músicas que me fizeram chorar publicamente em 2008 até agora.

A primeira é a mais sem sentido, porque é dançante, tem um clipe engraçado, mas não sei por que motivo eu cismei que é terrivelmente romântica. Até já falei um monte disso em textos. É "Ready for the floor", do Hot Chip (vergooonha). Se alguém mais tiver ficado pelo menos um pouquinho emocionado com essa música, seria legal me avisar, pra eu saber que não estou viajando totalmente (a gente pode até chorar junto, olha que bonito). Ouve só:



A segunda é claramente de fazer chorar, apesar de que nada justifica fazer isso chegando em uma reunião de trabalho. Mas ah, quem resiste a Fernanda Takai cantando uma música chamada "Descansa Coração"?



A canção mais recente dessa lista se chama "Devaneio esferográfico" (vergoooonha 2). Apesar do nome brega, a letra é bonita de verdade. A música está no disco novo do Rockz e também aí embaixo.



quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Acceptable in the 80´s

Agora estão vendendo essa mulher do Babado Novo, e de uma maneira horripilante. Não entendo muito sobre estratégias para ser o novo Ivetão, mas tenho quase certeza que para isso não é necessário um logotipo Hans Donner nem um chapéu de paquita.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

No Country For the Old Young

O tempo de heroísmo dos caubóis acabou. Não foram apenas as mortes de Beto Carreiro e Heath Ledger que mostram que a maré não está boa para os homens de chapéu, botas e fivela prateada. O favoritismo para o Oscar deste ano de Onde os Fracos Não Têm Vez (No Country For Old Men), dos irmãos Cohen, é um sintoma de que o mundo de 2008 se enxerga em um velho-oeste em que os bandidos venceram.

Neil Young, (anti-)herói country, também deu um sinal de que os dias de hoje são ruins. Ele declarou a repórteres no Festival de Cinema de Berlim que "a música não pode salvar o mundo". Depois ele tentou se explicar melhor (a declaração completa dele está aí embaixo). Quando até o tio-hippie-cabeludo que escreveu "Rockin' in a free world" acha que a coisa está difícil, é porque a coisa está realmente difícil.

A Song Alone
By Neil Young

No one song can change the world. But that doesn’t mean its time to stop singing.
Somewhere on Earth a scientist is alone working. No one knows what he or she is thinking. The secret is just within reach. If I knew that answer I would be singing the song.

This is the Age of innovation. Hope matters. But not hope alone. In the age of innovation, the people’s fuel must be found. That is the biggest challenge. Who is up to the challenge? Who is searching today? All day. All night. Every hour that goes by. I know I am.

My friends write to me don’t give up. I am not giving up. I know this is the time for change. But I know that it’s not a song. Maybe it was. But it isn’t now. It’s an action, an accomplishment, a revelation, a new way. I am searching for the people’s fuel. Will I find it? Yes. I think so. I don’t know why I may have been chosen to help enable a discovery of this magnitude. I know I can only write a song about it when I find it. Until then I can write a song about the search or spend all my time looking. But a song alone will not change the world. Even so, I will keep on singing.

Neil Young, back to black

domingo, 10 de fevereiro de 2008

O disco móvel de Timbaland

O rapper e dono da música pop atual Timbaland anunciou que vai lançar um disco "móvel". A palavrinha entre aspas tem duas explicações: a primeira é que as gravações vão acontecer em um estúdio sobre rodas, durante uma turnê do músico pelos EUA ao longo de 2008. A segunda, e mais ousada, é que as músicas vão ser disponibilizadas para downloads mês-a-mês para os "assinantes", junto com vídeos de bastidores e ringtones. O serviço será fornecido pelo V Cast, rede de distribuição de áudio e vídeo por celular.

De início, a idéia soa criativa como a do Radiohead, mas enquanto os ingleses pareceram espontâneos, a jogada do Timbaland é tão redondinha que não esconde pelos cantos o bando de diretores de marketing prontos para atacar nossos bolsos feito hienas.

aloi, timbaland? acho q vou te baixar no torrent mesmo. bjo!


terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Crítica do Hot Chip no JB

Saiu hoje uma crítica minha sobre o disco novo do Hot Chip no Caderno B, do Jornal do Brasil. É uma versão-nada-a-ver do texto que eu já tinha publicado aqui e no Pílula Pop sobre o disco. Dá para ler a matéria clicando na imagenzinha aí embaixo.

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Clique acima para ler.

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Lightspeed Champion, monstros de pelúcia e poesia em outdoors

Dois posts atrás citei de passagem a banda Lightspeed Champion, que acompanhou Alex Turner na versão de "Reptilia". Confesso que não conhecia nada dos amigos do Alex até então, mas o nome ficou na minha cabeça e um alarme tocou depois que esbarrei de novo com ele no Ilustrada no Pop. As músicas do Lightspeed Champion, assim as fotos do blog da banda, são levemente estranhas e imediatamente amigáveis.

A banda é liderada por um cara esquisito chamado Devonte Hyness, cujo último projeto era com os indie-roqueiros-loqueirinhos do Test Icicles. No ano passado, ele viajou para Omaha, terra do Elliot Smith, e de lá voltou com esse som mais calmo e chicletudo. De bônus, os clipes têm referências visuais bem espertinhas.

O primeiro vídeo foi o de "Galaxy of the Lost", bem fofa e levinha. Queria saber onde vendem esses monstrinhos de pano que contracenam com Devonte.



O clipe mais recente é de "Tell Me What It's Worth", música épica sem ser chata, que antecipou em algumas semanas o lançamento primeiro álbum, Falling Off the Lavander Bridge, no último dia 21 de janeiro. O ótimo final do vídeo ainda me fez esbarrar com um nome adormecido na minha cabeça: Jenny Holzer, que é tipo uma poeta de outdoor e projeções. Veja o clipe aí embaixo e uns trabalhos da Jenny aqui.

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Later... with Radiohead

Estou gostando de ver as novas apresentações ao vivo do Radiohead, admito que até mais do que ouvir as faixas do In Rainbows. Hoje eles são a principal atração da edição especial da edição de número 200 do programa "Later... With Jools Holland", da BBC. Com certeza, amanhã vão aparecer milhares de vídeos no Youtube com as gravações de "Bodysnatchers", "Weird Fishes/Arpeggi" e "15 Step". Além delas, uma versão bonita de "House of Cards", uma das minhas preferidas do disco, já está no site da BBC.

Além da banda de Thom Yorke, Cat Power, Fiest, Mary J Blige e Robyn Hitchcock vão comemorar o aniversário do Jools.